O mercado brasileiro de Fusões e Aquisições (M&A) entra em um novo ciclo de consolidação, pautado por movimentos estratégicos que remodelam profundamente diversas cadeias produtivas. Entre janeiro e abril de 2025, foram contabilizadas 537 transações e R$ 56,5 bilhões movimentados, reforçando o papel das F&A como mecanismo central de competitividade.
Após três anos de retração marcada por incertezas macroeconômicas, restrição de crédito e volatilidade global, 2025 se destaca como ano de recuperação. No primeiro bimestre, o volume de transações saltou 36% em relação a 2024, somando 225 negócios fechados.
Mesmo com a leve desaceleração entre janeiro e maio — 549 operações, queda de 0,9% no total e de 2,3% na comparação anual — o ritmo permanece robusto. No segundo trimestre de 2024, por exemplo, houve um crescimento de 17% no número de operações, sinalizando um ambiente de negócios mais dinâmico.
O segmento de TI/Software lidera com 15,4% das transações em 2025, impulsionado pela transformação digital de empresas maduras e pela busca de soluções de automação. Em seguida, figuram instituições financeiras, alimentos e bebidas, equipamentos e serviços de saúde, e logística e transporte. Juntos, esses cinco setores concentram cerca de 49% das operações realizadas.
O perfil dos investidores também evolui. Investidores estratégicos lideraram 67% das transações, buscando sinergias operacionais e expansão de mercado. Já os investidores financeiros, como fundos de private equity, participaram de 33% dos anúncios. No âmbito geográfico, 77% das aquisições tiveram origem nacional, enquanto apenas 23% envolveram capital estrangeiro, evidenciando um movimento de fortalecimento doméstico.
As empresas recorrem às F&A para alcançar escala, sinergias e eficiência operacional, essenciais diante da competitividade crescente e da necessidade de melhoria de margens. A consolidação de players reduz custos fixos, amplia poder de negociação com fornecedores e favorece economias de escala.
O desejo de inovar é outro fator determinante. Corporações maduras buscam startups e empresas de tecnologia para acelerar a transformação digital e inovação, integrando novos produtos, serviços e capacidades analíticas. Esse movimento fortalece o portfólio e assegura vantagens competitivas em um mercado em rápida evolução.
Também desponta a estratégia de aproveitamento de oportunidades em ativos subvalorizados pós-crise, com aquisições táticas visando a longo prazo. Essa seletividade reflete maior maturidade na tomada de decisão, priorizando deals estruturados e planos de integração bem definidos.
O cenário de liquidez restrita, aliado à volatilidade política e à pressão inflacionária, tem moldado o apetite aquisitivo das empresas. Embora o crédito ainda seja caro, há sinais de melhora gradual nas condições de financiamento, estimulando novas operações.
Regionalmente, o Brasil responde por 55,4% do volume de M&A na América Latina até abril de 2025, consolidando sua posição de protagonista. A ausência de IPOs domésticos desde 2022, com follow-ons somando R$ 3,5 bilhões em 2025, reforça a dependência de fusões e aquisições como via principal para movimentações de capital relevantes.
No âmbito micro, as F&A propiciam:
Ao nível macro, observa-se uma releitura da estrutura setorial, com concentração de mercado intensificada e redesenho das relações competitivas. Esse fenômeno tende a gerar barreiras de entrada mais elevadas, mas também pode estimular inovações disruptivas por meio de novos entrantes com propostas diferenciadas.
Para obter resultados sustentáveis, as organizações devem superar obstáculos significativos:
Esses desafios só são vencidos com um planejamento detalhado e alinhamento estratégico, fundamentado em diligência rigorosa de ativos, clareza de objetivos e governança robusta durante a integração.
O aprendizado central desse ciclo de M&A é a importância de combinar visão de longo prazo com execução disciplinada. Empresas que entendem a fusão não apenas como instrumento de crescimento, mas como projeto de transformação cultural e operacional, tendem a colher frutos mais duradouros.
O Brasil está posicionado para continuar liderando a consolidação na América Latina. Com maior maturidade de investidores e foco em inovação, o mercado de fusões e aquisições seguirá sendo pilar-chave para a evolução de diversos setores econômicos, reforçando a competitividade e a geração de valor no cenário global.
Referências